Nestes dias eu fiz muito das mesmas coisas...
No dia 01 de Junho fiz compras, pelo Aplicativo de mensagens, pedi delivery.
Comprei muita coisa, gastei um belo dinheirão, pensando em não sair jamais, nem em pedir mais nada jamais, e ficar em casa.
Pedi que entregassem na casa paroquial, lavei ou limpei tudo, levei pra casa.
Uma festa.
Quanta comida!!
Fiquei olhando e pensando e torcendo pra poder comprar comida de novo...
Mas meus planos de não sair de casa foram por água abaixo.
Minha irmã mais velha, que tem 59 anos, foi finalmente posta em home office. Trabalha num hospital, o HU, no setor de imagem.
É terceirizada, digita os laudos...
E eis que finalmente em home office, o computador falha.
Era um defeito no HD, constatei na primeira conversa.
Busquei o computador, arrumei o HD mediante o retirar e consertar com outro computador, reinstalei e devolvi.
No dia seguinte, ou poucos dias depois, ela me liga de novo: outra falha. Me descreveu o que era, e constatei ser a bateria da BIOS.
Coloquei pra ela uma bateria usada, que estava num controle remoto quase nunca usado. Acabou...
Levei outra bateria, troquei, aproveitei para a ensinar a resolver um problema com o celular...
E em casa, arranquei a roupa, pus a lavar, não lavei até hoje...
Tomei banho.
Foi meu último contato.
Ainda estou com medo de ela ter pêgo de mim ou eu dela, ainda não fazem 14 dias que fui lá.
Fazem dez...
Que medo.
Ao longo dos últimos 12 ou 14 dias tenho cuidado de batata doce. Ganhei mudas, as enraizei na água, já plantei 16, vou plantar outras 15 ou 16 amanhã.
No dia em que plantei as primeiras, que foi quarta da semana passada, dia 10, Antônio veio comigo. Pareceu se divertir muito, se molhou, se sujou... brincou, riu. Quis ficar vendo vídeo sem parar, não deixei.
Não tenho deixado...
Mas... o que há de muito mais pra ele fazer? Brincar com os mesmos brinquedos, na mesma casa, com a mamãe e o papai, sem outras crianças, ligar de videochamada (ele tem achado pouca graça nisto ultimamente)...
Poucas opções!
Recentemente ele se reencantou em trocar os CDs do som. O aparelho de som tem um carrossel para 3 cds, e ele quer trocar, quer os ver mexer, quer girar o carrossel... eu deixo. Eu ajudo. Porque ele tem direito de se divertir! E não tem sido divertido...
Enfim, deixei que ele se molhasse. E se sujasse. Apenas evitei o contato com uma aranha buraqueira, que nunca tinha visto igual, e que infelizmente matei antes de arriscar. Depois, olhando numa chave, acredito que ela não oferecia nenhum perigo real.
Sujou-se.
Eu também me sujo na terra... Além das batatas, o amigão Fábio me trouxe de presente mudas de berinjela e banana nanica. As berinjelas ainda estão na sementeira, vou as por no chão amanhã ou quinta.
E também semeei abóboras, morangas, abobrinhas... Comidas.
Plantei também um chuchu, que parece que vai pra frente...
E escrevi timidamente algumas páginas de tradução...
Arrumei também um sistema de captação de água de chuva na casa paroquial, para que não gaste demais em irrigação.
Tenho me ocupado...
Á noite, eu e a esposa linda também nos ocupamos com brincadeiras de adultos muito prazenteiras e divertidas. Sexo, que fique claro!
Mas o buraco se afunda cada vez mais.
Já somos o segundo país com mais casos, e também o segundo onde mais morre gente, isso com números oficiais... se for ver a estimativa de alguns estatísticos, já passamos e muito.
Se o primeiro texto que pus neste diário dava conta, há 90 dias, de 300 casos e 1 morto, hoje são mais de 44 mil mortos e 600 mil casos. E o governo não caiu. Não acredito mais que vá cair.
No meio disso tudo uma mulher matou o filho da sua empregada no Recife. COlocou o menino num elevador, sozinho, com 5 anos de idade, apertou o botão do andar 9.
Ele estava procurando a mãe, negra, babá dos filhos dela, mas ela não quis esperar ou cuidar dele enquanto a empregada levava o cachorro pra passear.
Pos o menino no elevador, apertou botão do andar superior (a mae estava na rua e não acima...) ele desceu, procurou a mãe, não a achou, caiu e morreu.
E ela ao ver o menino caído ao invés de se apressar em socorrer, conversou com a vizinha enquanto o menino acabava de morrer.
Eu tenho um filho negro, uma esposa negra. Somos pobres, cada vez mais. As perspectivas diminuem.
E editora não me deu garantia de pagamento para o dia 30 de Junho. Sempre pagam no último dia útil... talvez não paguem neste. É por isto que comprei o máximo de comida possível. não sei quando poderei comprar de novo.
É por isto que estou plantando comida. Quando a que comprei acabar, haverá algo plantado, quem sabe poderemos aliviar um pouco a necessidade, que pode ocorrer.
Durará ainda muito a pandemia , e especialmente a epidemia no Brasil.
44 mil mortos, NENHUMA ação federal em prol de quarentena. Comércios parcialmente abertos. Ruas cheias de gente.
Vai morrer gente pra caralho ainda... E ninguém vai fazer absolutamente NADA.
Tenho muito medo.
Muito.
Quero ir embora do Brasil, com meu filho e esposa, pra onde seja seguro.
Porque a epidemia, pelo jeito, será apenas um capítulo introdutório da crise que virá em breve.
Espero estar errado em tudo.
Espero que a editora pague, que eu não precise de viver de batata doce e abobora...
Espero MESMO.
Mas quanto a planos, não faço nenhum que não gire em torno das urgências e do recolhimento máximo, com exposição mínima.
De vez em quando o computador de alguém , infelizmente, pára.